10/11 – Santo André Avelino, Confessor

O século XVI, que viu fermentar por toda a Europa central a heresia de Lutero e congêneres, viu também florescer uma plêiade de grandes Santos que empreenderam a verdadeira Reforma pretendida pelos heresiarcas. Santo André Avelino foi um deles. Grande reformador do clero e de casas religiosas, venerado por príncipes e plebeus, foi um dos maiores santos de seu tempo.

Castronuovo, pequena cidade do então reino de Nápoles, foi o berço de Lancelote, filho de João Avelino e Margarida Apella. Casal piedoso, que prezava mais os bens espirituais que os materiais – que não lhes faltavam –, consagraram o menino logo ao nascer à Santíssima Virgem e se esmeraram em proporcionar-lhe uma educação profundamente cristã.

Após seus primeiros estudos, foi enviado a Veneza para cursar humanidades e filosofia. Voltou depois para Nápoles, onde doutorou-se com brilho na jurisprudência. Foi também ordenado sacerdote.

O Pe. Lancelote, cuja virtude já era admirada por muitos, foi então escolhido para reformar um convento de monjas decadentes, que viviam em total desordem. Aos poucos foi ganhando aqueles corações entibiados e reacendendo neles o fogo do amor de Deus. O convento passou a ser a admiração da cidade pelo seu fervor e desejo de virtude.

Mas nem todos ficaram edificados. Alguns mundanos não gostaram de se verem privados das visitas ao convento; para se vingar do jovem reformador, contrataram um sicário que desferiu no Pe. Lancelote vários golpes de espada sobretudo no rosto, deixando-o estendido numa poça de sangue. Felizmente nenhuma ferida foi mortal, e ele recuperou-se milagrosamente sem ficar mesmo com nenhuma cicatriz na face.

O Pe. Lancelote resolveu abandonar o mundo, entrando para a Ordem dos Teatinos, fundada havia 30 anos por São Caetano de Tiene, e que visava especialmente a reforma do clero. Tinha ele então trinta e cinco anos de idade.

Por amor à cruz, ele escolheu em religião o nome do Apóstolo André, nela martirizado. Seu desejo de perfeição era tão grande, que fez dois votos heroicos, além dos três votos normais de obediência, pobreza e castidade: o de negar em tudo a própria vontade, e o de adquirir novo grau de virtude a cada dia.

Enviado ao convento de Nápoles, foi-lhe dado o cargo de Mestre de Noviços, que ele exerceu por dez anos com suma prudência e caridade, o que fez com que o escolhessem para Superior.

Santo André foi depois encarregado de fundar duas novas casas da Ordem, uma em Piacenza e outra em Milão. Na primeira cidade ele pregou contra o excesso de luxo nas mulheres, e converteu várias pecadoras públicas. Suas pregações sobre a reforma de vida desagradaram a alguns, que apelaram para o Duque de Parma pedindo-lhe que banisse o importuno de seus Estados. Mas o Duque quis certificar-se diretamente do caso, e depois de ter conversado com o Santo, passou a ser o seu mais convicto defensor, sabendo que preciosidade tinha em seus domínios. A Duquesa quis tê-lo como confessor.

Indo depois para Milão, André era esperado por outro Santo, a quem havia chegado a fama de suas virtudes. Tratava-se do Cardeal São Carlos Borromeu, outro dos sustentáculos da verdadeira Reforma. Entre os dois estabeleceu-se uma amizade verdadeiramente sobrenatural, que só pode existir entre santos, e tão íntima, que Santo André comunicava a São Carlos, com toda simplicidade, as graças sobrenaturais que recebia do Céu.

Assim, um dia contou que Nosso Senhor lhe tinha aparecido em toda sua glória, e lhe havia dado uma tão alta noção da beleza divina, que ele não era mais capaz de amar nenhuma coisa das que se dão tanto valor na terra.

A caridade de Santo André Avelino manifestou-se com muito mais intensidade durante a peste de Milão, em 1576.

Voltando a Nápoles, foi superior do convento. Durante seu governo, ele descobriu e refutou publicamente hereges que combatiam a verdade sobre o corpo e sangue do Filho de Deus na Eucaristia, e fez punir o chefe deles. Um homem, seduzido por esses impostores, recebeu a hóstia santa e a embrulhou em seu lenço para depois a profanar. Chegando em casa, abrindo o lenço, encontrou sangue que havia escorrido da hóstia. Aterrorizado, correu em busca de Santo André a quem confessou seu crime. Para evitar que o criminoso se desesperasse, o Santo tomou sobre si parte da penitência por ele devida. Mas, sem nomear o autor, utilizou esse estupendo milagre para fortalecer na fé os que vacilavam diante desse divino mistério.

Vários fatos miraculosos sucederam com esse servo de Deus. Uma vez, quando ele, com um companheiro, levava o Viático a um enfermo num lugar muito ermo, desabou forte temporal que apagou a tocha que o companheiro levava para iluminar o caminho. Mas não só a chuva não os molhou, como o rosto do Santo irradiou tal luminosidade, que iluminou o caminho.

Outro dia viajava ele com um outro religioso a cavalo quando o seu, assustando-se, deu um salto, lançando o Santo fora da sela, e partiu em disparada. Acontece que um dos pés de André ficou preso ao estribo, e ele foi arrastado pelo terreno pedregoso. Mas, chamando em seu auxílio São Domingos e São Tomás de Aquino, estes lhe apareceram, desvencilharam-no do estribo, enxugaram seu sangue e curaram suas chagas.

Santo André, como todos os Santos, teve muito que sofrer, tanto por parte do demônio, quanto de seus subordinados. O príncipe das trevas o tentava continuamente contra a fé.  Uma vez, quando o santo gemia sob forte tentação de ser do número dos réprobos, apareceram-lhe Santo Agostinho e São Tomás que, com palavras cheias de bondade, inspiraram-lhe nova confiança em Deus, assegurando-lhe o comprazimento divino para com ele.

Enfim, no dia 10 de novembro de 1608, quando o Santo já era quase nonagenário, ao dirigir-se para celebrar a Missa, teve um ataque de apoplexia entregando pouco depois sua valorosa alma ao Criador. Ele é um Santo muito popular na Itália, invocado contra a morte repentina e a apoplexia.

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